Glu glu glu no estômago


Eu gosto muito de analisar o que acontece comigo e o que acontece ao meu redor porque acho que tudo tem uma explicação. Nunca me contentei com respostas do tipo: porque sim, porque sempre foi assim, ou um não sei. O fato de tudo ter um porquê despertou meu instinto investigador e curioso em mim e inclusive no próprio processo de autoconhecimento essas características têm me ajudado muito a trilhar a minha jornada. Eu só quero entender por que cargas d'água as coisas são como elas são.

Eu ainda não sei exatamente o porquê, mas acho que foi numa tentativa de negação que eu paralisei ao receber a notícia da morte da minha comadre, amiga, irmã Elaine. Ela fez, dizia do outro lado da linha aos prantos Dadis, ela não aguentou. Emudeci. Só ouvia glu glu glu no meu estômago. Não tinha como reverter. Não tinha como controlar. Era sonho ou pesadelo? Só era o que era não havia nada mais que poderia ser feito. Estou falando sobre isso apenas agora. Ainda me choca, mas pelo menos consigo encarar a situação de maneira mais serena, pois até então o tempo todo eu quis afastá-la e não vê-la. Até mesmo agora, sinto meu estômago trabalhando porque a primeira reação naquele dia foi de correr pro banheiro para cagar. Acabei de ler aqui esse negócio chama-se diarreia emocional e é desencadeada por questões de stress. O corpo se prepara para fugir ou para atacar. Fico pensando aqui: quem é que consegue fugir ou atacar todo breado de bosta? 

Os sintomas do stress e da ansiedade atingiram exatamente meu sistema digestivo. Perdi o apetite e a diarreia me perseguiu durante alguns dias.

Nunca pensei que o luto pudesse mexer tanto comigo. Essa foi a fase da negação. Eu não queria acreditar, eu não queria aceitar, eu não entendia e o fato de ter estado com ela dois dias antes do ocorrido me acendeu a culpa.

Eu sei que não poderia evitar, mas a cabeça trola a gente legal e vai buscar aquelas memórias mais escondidas de situações que a gente acha que já estavam resolvidas para te jogar na cara, no pior ou (melhor) fase que a gente atravessa para a gente lidar com elas.

Gosto da palavra.


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